sábado, 26 de maio de 2012


PALESTRA SOBRE A PÓS-MODERNIDADE


MODERNIDADE

Modernidade:  Época da sociedade industrial , aquela em que o poder econômico e político pertence às grandes industrias  e em que se explora o trabalho produtivo.
·       valores que haviam norteado a filosofia e as ciências desde o final do século VIII até os anos 1980.
·     Racionalismo -  Confiança no poder da razão para distinguir entre aparência e realidade e para conhecer e transformar a realidade.
·     * Definir critérios para distinguir a loucura e a razão; entre ser e parecer; entre realidade e aparência; conhecimento e ilusão; a verdade e a ideologia; assegurava a realidade do conhecimento filosófico e científico.
·     Distinção entre interior e exterior ou entre sujeito e objeto de maneira a assegurar  a subjetividade (* pensamento com seus princípios e leis universais e com seus procedimentos teóricos próprios como fundamento necessário do conhecimento ou como condição necessária da objetividade como forma de conhecimento verdadeiro.
·     Afirmação da capacidade da razão humana para conhecer a essência ou a estrutura interna de todos  os seres, definindo as causas e condições pelas quais é determinada a identidade de cada coisa e sua realidade, demonstrando as relações necessárias que cada uma delas mantém com outras de que dependem ou que delas dependem  e oferecendo as leis necessárias  de mudança ou alteração de todas as coisas.
·     Prática: percepção da diferença entre a ORDEM NATURAL e a ORDEM HUMANA DA CULTURA ( ética, política, artes) pois nessas dependem a ação econômica, social e política dos próprios homens. A ORDEM HUMANA AINDA QUE ATUE SOBRE OS INDIVÍDUOS COMO SE ESTIVESSE NO MESMO PASSO DA ORDEM NATURAL pode ser mudada e transformada pelos seres humanos , o que prova que ela é uma instituição humana e histórica.
·     Afirmação de que os seres humanos são indivíduos e agentes livres porque são racionais dotados de vontade, capazes de controlar e moderar suas paixões e seus desejos e que escolhem por si mesmos as ações que praticam, sendo por isso, responsáveis por elas.
·     Distinção entre o público e o privado:  critérios permitem distinguir entre esfera pública ou política ( instituições sociais e de poder) e a esfera privada da moral individual ( a ética) e da economia de mercado ( a propriedade privada dos meios de produção).
·     * afirmação dos ideais da Revolução Francesa – igualdade, liberdade e fraternidade; reconhecimento dos direitos civis – cidadania – afirmação desses ideais pela afirmação de direitos sociais que deram origem aos movimentos sociais de luta contra o racismo, movimentos feministas e liberação sexual.
·      Afirmação de que a História é progressiva por meio das lutas sociais. E políticas contra a opressão e exploração econômica, social, política e cultural.
O PENSAMENTO PÓS-MODERNO

O PENSAMENTO PÓS-MODERNO CRITICA AS IDEIAS MODERNAS E AS RECUSA.
·     Considera infundadas e ilusórias as pretensões da razão no conhecimento e na prática quando não um disfarce para o exercício da dominação sobre os homens.
·     Conhecimento não se define por procedimentos articulados à distinção entre verdade e a falsidade e sim, pelos critérios da utilidade e da eficácia: um conhecimento ( filosófico, científico, artístico) é válido se for útil ( se servir para alguma coisa aqui e agora ) ou se for eficaz para a obtenção dos fins desejados por quem conhece não importando que fins sejam.
·      Considera infundada a distinção entre sujeito e objeto, pois tanto as filosofias como as ciências são construções subjetivas de seus objetos, os quais só existem como resultado das operações teóricas e técnicas. Em outras palavras o conhecimento não visa a uma realidade existente em si mesma; mas sim à invenção ou construção de objetos teóricos e técnicos.
·     Filosofia : é feita pela linguagem a qual como na literatura não diz o que as coisas são e sim cria coisas ao falar delas. No caso das ciências essa criação é feita por meio de procedimentos de laboratório , no qual os cientistas não observam realidades mas as constroem.
·     Não admite a distinção entre ordem natural  e ordem histórica e cultural instituídas pelos homens; ambas são instituições humanas, invenções, contingentes, efêmeras, passageiras.
·     Não admite a definição do ser humano como animal racional dotado de vontade livre,mas o concebe como um ser passional, desejante que age movido por impulsos e instintos, embora ao mesmo tempo institua uma ordem socialo que reprime seus desejos e paixões. A ética não se define pela ação racional voluntária livre que busca a ação boa ou virtuosa, mas,  pela busca de satisfação dos desejos , satisfação que define a felicidade e esta se realiza na esfera da intimidade individual.
·     Desconfia da política: a democracia gera a apatia crescente dos cidadãos o socialismo e o comunismo desembocam em regimes e sociedades totalitárias. Por isso,  desconfia da distinção entre o público e o privado e dá importância à esfera da intimidade individual.
·     Dá importância à idéia de diferença. Ou seja, em lugar de tomar a sociedade como uma estrutura que opera pela divisão social de classes. Concebe a realidade como uma teia fragmentada de grupos que se diferenciam por étnica , gênero, religião,  costumes, comportamentos, gostos e preferências.
·     Para Gianni Vattino (2001)
·     “a chamada "pós-modernidade" aparece como uma espécie de Renascimento dos ideais banidos e cassados por nossa modernidade racionalizadora. Esta modernidade teria terminado a partir do momento em que não podemos mais falar da história como algo de unitário e quando morre o mito do Progresso. É a emergência desses ideais que seria responsável por toda uma onda de comportamentos e de atitudes  irracionais e desencantados em relação à política e pelo crescimento do ceticismo face aos valores fundamentais da modernidade. Estaríamos dando Adeus à modernidade, à Razão (Feyerabend). Quem acredita ainda que "todo real é racional e que todo real é racional"(Hegel)? Que esperança podemos depositar no projeto da Razão emancipada, quando sabemos que se financeiro submetido ao jogo cego do mercado? Como pode o homem ser feliz no interior da lógica do sistema, onde só tem valor o que funciona segundo previsões, onde seus desejos, suas paixões, necessidades e aspirações passam a ser racionalmente administrados e manipulados pela lógica da eficácia econômica que o reduz ao papel de simples consumidor”
·     Alguns sintomas no sujeito pós-moderno
·     Rouanet se arrisca em fazer uma psicopatologização ao considerar, primeiro, o moderno essencialmente como contraditório. É na modernidade que Freud e depois mais radicalmente W. Reich, ambos estabelecem a conexão repressão sexual e enfermidades mentais. Segundo, a sociedade pós-moderna irá favorecer o surgimento de um hedonismo socializado pela mídia e, de certa forma, respondida pela própria sociedade como sintoma “sociedade espetáculo” (Debord).
·     Na sociedade ocidental pós-moderna a visibilidade de cenas tende a ser obscena, quando exclui a dimensão da subjetividade e da privacidade das pessoas. Ou seja, anula-se a dimensão do privado, tornando  “tudo” público, do cotidiano dos ansiosos por fama dos ex-anônimos do programa televisivo Big Brother, aos já famosos da revista Caras, e, também, o ritual histérico dos evangélicos, dos carismáticos e islâmicos, que se oferecem para serem vistos pela televisão seduzindo todos com suas “justas causas”, aos miseráveis igualmente noticiados e fotografados decorrentes de algum fato jornalístico.
·     Os sintomas de obscenidade da era moderna de exploração sexual ou de exploração do trabalho, operavam sempre no oculto, eram marginalizadas aos subterrâneos da vida social. Os dispositivos ideológicos de manutenção das cosias como estavam, eram a opressão social, a repressão psíquica e o trabalho ideológico de recondução da libido para fins de trabalho ou exploração industrial; hoje, na sociedade pós-moderna, reforçando o que foi dito acima, operam mecanismos de promoção da visibilidade do que era privado, como se decretasse o fim do segredo ou o fim da intimidade.
·     A doença da era moderna era a histeria, onde ocorria a teatralização do sujeito incapaz de suportar tanta repressão, originada no conflito endopsíquico. Freud funda a psicanálise graças às histéricas que lhe insinuam um gozo impossível. Omal-estar da cultura pós-moderna é mais complexo, os sintomas subjetivos se pulverizaram no disfarce coletivo, parecendo que “estamos todos bem”, tal como auto-enganava o personagem de Marcelo Mastroianni, no filme italiano de mesmo nome. O mal-estar pós-moderno é visível e trivial, expressado na linguagem do cotidiano do trabalho compulsivo, muitas vezes vendido como se fosse “lazer” ou “ócio criativo”, que gera stress, a perversão, a depressão, a obesidade, o tédio.
·     Em termos de patologia social, a modernidade fez surgir coisas contraditórias como indústrias e a atitude liberal, a ciência, a tecnologia, a multiplicação da população pobre e de guerras racionais. A pós-modernidade marca o declínio da Lei-do-Pai, cujo efeito mais imediato no social é a anomia, onde a perversão se vê livre para se manifestar em diversas formas, como na violência urbana, no terrorismo, nas guerras ideologicamente consideradas “justas”, “limpas” ou “cirúrgicas”. A razão cínica é cada vez mais instrumentalizada. Isto é, não basta ser transgressivo, ou perverso-imoral, é preciso se construir uma justificativa “moral” para atos imorais ou perversos. Zizek (2004) cita o escabroso caso dos necrófilos, nos EUA, que se julgam no “direito” de fazer sexo com cadáveres. Ou seja, qualquer cadáver é “um potencial parceiro sexual ideal de sujeitos ‘tolerantes’ que tentam evitar toda e qualquer forma de molestamento: por definição, não há como molestar um cadáver”.
·     Na pós-modernidade a perversão e o estresse são sintomas resultados da falta-de-lei, da falta-de-tempo, e da falta-de-perspectiva de futuro, porque tudo se desmoronou (do muro de Berlin a crença nos valores e na esperança). “Tudo se tornou demasiadamente próximo, promíscuo, sem limites, deixando-se penetrar por todos os poros e orifícios”, diz Zizek.
·     Nossa sociedade é regida mais do que pela ânsia de “espetáculo”; existe a ânsia de prazer a qualquer preço, não made in id [Isso] mas made in Superego. O superego pós-moderno “tudo vale” e “tudo deve porque pode”. Todos se sentem na obrigação de se divertir, de “curtir a vida adoidado” e de “trabalhar muito para ter dinheiro ou prestígio social”, não importando os limites de si próprio e dos outros.  As pessoas se sentem no dever de se vender como se fosse um prazer, de fazer ceia de natal em casa à meia noite, de comemorar o gol que todo mundo está comemorando, de curtir o carnaval nos 3 ou 4 dias, de seguir uma religião, de usar celular sem motivo concreto, de gastar o dinheiro que não têm, de trepar toda noite porque todos dão a impressão de fazê-lo, de fazer cursos e mais cursos, ascender na empresa, escrever mil e um artigos por ano na universidade, enfim, todos parecem viver na “obrigação” de se cumprir uma ordem invisível, e de ser visivelmente feliz e vencedor. O senhor invisível que no manda é o superego pós-moderno; “ele manda você sentir prazer naquilo que você é obrigado a fazer”. E, ai daquele que não consegue, ou que se nega seguir a moral de rebanho, pagará de três modos: será estigmatizado pelos seus pares (“Ele quebrou o código, é um traidor do super-ego pós-moderno!”), ou pagará com um terrível sentimento de culpa ou, ainda, sofrerá os sintomas de uma doença psicossomática.
·     Não é sem motivo que os lugares de trabalho em que a competição é mais acirrada, onde não existem limites definidos entre trabalho, estudo e lazer, que encontramos pessoas queixosas, infelizes, freqüentemente visitando os médicos e hospitais. Se a modernidade prometia a felicidade através do progresso da ciência ou de uma revolução, a pós-modernidade promete um nada que pretende ser o solo para tudo. Chauí...................

pondé.pós-modernidade e Bauman
http://www.youtube.com/watch?v=58MMs5j3TjA&feature=related

Não vá para o vestibular , sem entender um pouco que seja sobre a sociedade pós-moderna

A sociedade pós moderna: algumas características

O pós- modernismo é, segundo Santos (1986), “[..] o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se encerra o modernismo (1900- 1950).” (Santos, 1986, p.8).
Simbolicamente, datam como o início da era pós-moderna o dia 6 de agosto de 1945, com a explosão da bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima; a sociedade moderna – criadora- transforma-se, assim, na sociedade pós-moderna, que é capaz de propagar a destruição pois conta com desenvolvimento tecnológico para tanto e não mais possui “barreiras morais”.
Vê-se, então, uma característica essencial da sociedade pós moderna: tecnológia. Por isso a sociedade pós moderna só poderia dar seus primeiros passos nos centros de produção da era moderna: Europa ocidental e EUA, sociedades já urbanizadas, detentoras dos meios de produção, e, consequetemente, sociedade com grande poder de consumo.
Com a evolução da globalização e da comunicação, o estilo de vida pós moderno se alastrou para o resto do mundo – países periféricos, ainda empregadores de mão de obra no primeiro e segundo setor (produção agrícola e industrial, respectivamente), entretanto, ficando o "estilo de vida pós-moderno" restrito à classe com maior poder de consumo.
Diria ser a tecnologia a característica fundamental da pós-modernidade, a partir da qual se origina as demais características presentes na sociedade pós-moderna.
Sobre a tecnologia, pode-se dizer que a sociedade existente no pós-modernismo é saturada pela tecnologia eletrônica de massa e individual: “O ambiente pós moderno é povoado pela cibernética, a robótica industrial, a biologia molecular, a medicina nuclear, a tecnologia de alimentos (...).” (SANTOS, 1986, p. 26).
A tecnologia produzida pela sociedade pós-moderna também é enfaticamente aplicada na área de comunicação: televisão, rádio, internet, telefones celulares, etc. Tal aplicação possui algumas conseqüências, as quais considero como as mais fortes caracterizadoras da sociedade pós -moderna:

1-a distorção do real (sociedade do espetáculo);
2- desrreferencialização do real e desubsstancialização do sujeito;
3- consumismo e fetichismo;
4- individualismo;
5- distorção de valores;
Sobre as consequencias:

1- A Distorção do real

Há a distorção do real pois com a tecnologia aplicada à comunicação o homem pode simular a realidade de acordo com seu imaginário: pode ser a aparência, “[...]o simulacro perfeito da realidade. Simular por imagens como na TV [...] significa apagar a diferença entre o real e o imaginário e apagar a aparência” (SANTOS, 1986, p.14).
Os meios de comunicação e reprodução da realidade não reproduzem o mundo de acordo com sua realidade de fato, “[...] eles o refazem à sua maneira, hiper-realizam o mundo, transformando-o num espetáculo”.
Ainda sobre a distorção do real, Baudrillard (1990) diz ser consequencia de um fenômeno o qual é chamado de “pós-orgia”. Segundo o autor, a sociedade atingiu seu extremo de modernidade, com a super produção e liberações exacerbadas e não pensadas (liberação sexual, política, moral, filosófica, ideológica, tecnológica etc.).
Agora, segundo o autor, a humanidade se encontra diante do impasse: “para onde seguir?” Baudrillard diz que, por ser passado as finalidades da liberação, a humanidade prossegue no vácuo. “Que fazer então? Isso é o resultado de simulação, aquele em que só podemos repetir todas as cenas porque elas já aconteceram – real ou virtualmente. È o estado da utopia realizada, de todas as utopias realizadas, em que é preciso paradoxalmente continuar a viver como se elas não o estivessem. Mas, já que o estão e já que não podemos ter a esperança de realizá-las, só nos resta hiper-realizá-las, numa simulação indefinida. Vivemos na reprodução indefinida de ideais, de fantasmas, de imagens, de sonhos que doravante ficam para trás e que, no entanto, devemos reproduzir numa espécie de indiferença fatal.” (BAUDRLLARD, 1990, p. 10).

2- Desrreferencialização do real e desubsstancialização do sujeito.

A sociedade tecnológica requer, por natureza, grande quantidade de signos – entendendo por signos como sendo “toda palavra, número, iamgem ou gesto que representa indiretamente um referente através de uma referência” (SANTOS, 1986, p.14). Como diz Pieruccini, (2007) : “Portanto, o signo lingüístico não é a união entre um nome e uma coisa, mas é a união entre um conceito e uma imagem acústica.”
O homem pós-moderno, cercado de aparatos tecnológicos de comunicação, lida, por tanto, com mais signos – por informações, do que objetos, o que tem por conseqüência a degradação substancial da realidade, já que essa é simulada e o individuo “perde sua essência interior, sente-se vazio. A isso os filósofos estão chamando de desrreferencialização do real e desubsstancialização do sujeito, ou seja, o referente (realidade) se degrada em fantasmagoria e o sujeito (o individuo) perde sua substancia interior, sente-se vazio”. (SANTOS, 1986, p. 16).
Os signos podem ser tanto digitais quanto analógicos. Os signos digitais são descontínuos e arbitrário com relação ao que representam, como letras, números. Os signos “[...] analógicos são contínuos e se assemelham ao objeto representado: fotos, gráficos [...]. O digital permite escolher, o analógico, reconhecer ou compreender. Com a invasão da computação digital no cotidiano (calculadoras, painéis eletrônicos), estamos assistindo à digitalização social.” (SANTOS, 1986, p. 16).
Digitalização social quer dizer que o que chega até ao homem, para que esse consuma, é a imagem –analógica por natureza- surge digitalizada. “ [...] nas vitrines, cada liquidificador é um signo analógico dos modelos à venda, mas acha-se desenhado com traços que funcionam digitalmente para diferençá-los das outras marcas. [...] Isto acelera a escolha na base do SIM/NÃO [...]. Na pós modernidade, o individuo vive banhado num rio de testes permanente: Digitalizados, os signos pedem escolha. Não uma decisão profunda, existencial, mas uma resposta rápida, impulsiva, boa para o consumo.” (SANTOS, 1986, p. 17).
A hiper simulação do real, de acordo com Baudrillard, extremamente proliferada, com os meios de comunicação, causa saturação e exaustão e consequentemente, dispersão do conceito, que não se acaba, mas se esgota, se desprende de seu ideal de origem.
Foucault trata sobre essa idéia em um fragmento de “Microfísica do poder” no qual fala o autor sobre sexualidade: “ [...] se esboçando atualmente um movimento que me parece estar indo contra a corrente do ‘sempre mais sexo’, do ‘sempre mais verdade no sexo’ que existe há séculos: trata-se, não digo de ‘redescobrir’, mas de fabricar outras formas de prazer, de relações, de coexistências [...]. Todo o pesado coeficiente do sexo se volatizou.” (FOUCAULT, 1979, p.235).

3- Consumismo e fetichismo

A sociedade pós moderna surgiu já em uma sociedade de consumo, conseqüência da sociedade moderna, fruto de duas revoluções industriais, que possibilitaram o imenso desenvolvimento da sociedade capitalista com a produção de bens de consumo pela máquina. A sociedade pós –moderna também já surgiu urbanizada, outra consequência das revoluções industriais. No entanto, enquanto a economia da sociedade moderna era baseada no setor primário, industrial, com o emprego de trabalho de mulheres e crianças por um baixo custo, a sociedade pós moderna deu seus primeiros passos no ocidente do pós – guerra (inicio da guerra fria), já com sua economia voltada ao setor terciário, produção e consumo de bens e serviços pois sua produção industrial migra para os países em desenvolvimento.
Propaga-se o “american way of life”, sociedade extremamente consumidora de bens e serviços: moda, tecnologia, lazer.
Tal consumo não é pensado, analisado, mas sim exagerado e desenfreado, afinal, há um terreno fértil para tanto: a simulação da realidade, a hiper-realidade, a sociedade do espetáculo, que o ter necessidades que lhes foi induzidas. “Veja um close do iogurte Danone em revistas ou na TV. Sua superfície é enorme, lustrosa, sedutora, tátil- dá água na boca. O Danone verdadeiro é um alimento mixuruca, mas seu simulacro hiper-realizado amplifica, satura sua realidade. Com isso, somos levados a exagerar nossas expectativas e modelamos nossa sensibilidade por imagens sedutoras” (SANTOS, 1986, p. 13).
A grande quantidade de signos – digitais- com que o homem precisa lidar também é um fator determinante para o consumo exagerado: “Quanto ao referente; compra-se um monza não tanto por suas qualidades técnicas, mas por seu design, seu nome nobre, seus signos na publicidade [...]. Compra-se um discurso sobre o monza.” (SANTOS, 1986, p. 16).
Talvez, pode-se fazer uma analogia com o caráter fetichista da mercadoria, tratado por Marx, entendendo-se por fetichismo por processo pelo qual a mercadoria, ser inanimado, é considerada como se tivesse vida, fazendo com que os valores de troca se tomem superiores aos valores de uso e determinem as relações entre os homens e não vice-versa, na sociedade pós-moderna, com a desconsideração do referente, desconsidera-se, obviamente, que é a mercadoria objeto do trabalho humano, já que também há a desconsideração do sujeito.

4- Individualismo

O sujeito pós-moderno, cercado de signos e existindo na sociedade do hiper –real, tende a ser alheio ao real que não foi transformado, modificado para satisfazer suas expectativas. A simulação do real faz com que a realidade, a hiper realidade, seduza e erotize o individuo, “[...] com fantasias e desejos de posse. Uma carga erótica deve envolver por igual pessoas e objetos para impactar o social, sugerindo ao individuo isolado um ideal de consumo personalizado, ao massagear o narcisismo.”(SANTOS, 1986, p.28).
Por receber informações de forma constante e fragmentada, o homem pós moderno se atém ás minorias, não possui mais a consciência de classe típica da modernidade, até mesmo porque a era pós-industrial tende a transformar em objeto de consumo qualquer movimento revolucionário ou alternativo, ou seja, a erotização-personalização é também uma forma de controle social, apoiada pelo Estado. Este ainda realiza o controle através do corpo, no entanto, não pela violência legal contra o corpo do sujeito (prisões, etc), mas sim de forma sutil: “ Como é que o poder responde? Através de uma exploração econômica (e talvez ideológica) da erotização, [...].Como resposta à revolta do corpo, encontramos um novo investimento que não tem mais a forma de controle repressão, mas de controle estimulação: ‘fique nu, mas seja magro, bonito, bronzeado’.” (FOUCAULT, 1979, p. 147)
De acordo com Baudrillard (1990), “O proletariado como tal não conseguiu negar-se [...] como classe e, por isso mesmo, não conseguiu abolir a sociedade de classes. Talvez porque ele não fosse uma classe, como foi dito, e que só a burguesia fosse uma verdadeira classe e, portanto, só ela como tal pudesse negar-se. O que de fato ela fez, e o capital junto com ela, gerando uma sociedade sem classes mas bem diferente da que teria resultado de uma revolução e da negação do proletariado como tal. O proletariado simplesmente desapareceu. Desfez-se junto com a luta de classes. Não há dúvida de que, se o capital tivesse desenvolvido segundo sua própria lógica contraditória, teria sido desfeito pelo proletariado.” (p.16)

Pode-se concluir que tais fatores, a cima citados, provocam, consequentemente, a distorção da moral, (que já vinha em um processo de distorção - oriundo das primeiras revoluções industriais) por conta de signos fragmentados, informações distorcidas, signos lingüísticos em excesso para se manusear.
Há a despolitização. Como foi dito, o homem se preocupa, agora, com as minorias e, por tanto, não se sensibiliza mais com necessidades alheias, a menos que tais sejam mostradas em forma de espetáculo, para se encaixar em seu novo coneceito de realidade, que adquire um caráter de hiper- realidade.
A religião, a moral, são agoras utilizadas de acordo com a convenção de cada um.Por isso, Fukuyama (2003) chama a sociedade contemporanea de "pós -humana", pois, o homem superou o humano criador e, agora se transforma em o humano destruidor - pois possui aparato tecnológico para tanto, seus valores são invertidos e, a sociedade, despolitizada, individualista e consumista, não se interessa em controlar os "avanços" tecnológicos e biotecnológicos (digo "avanços" pois, o avanço real não existe, mas sim uma continuidade dos avanços já realizados, atualmente, o desenvolvimento caminha para o nada.)
Percebe-se, então, porque foi dito, no inicio do texto, que a sociedade pós-moderna não possui mais "barreiras morais" para a destruição: pois não há mais a preocupação com o valor, pois já não há valor, " Em rigor, já não se deveria falar em valor, já que essa espécie de demultiplicação e de reação em cadeia torna impossível qualquer avaliação" (BAUDRILLARD, 1990, p. 11).
Vê-se também que somente foi possivel a humanidade chegar a tal estágio e adquirir tais características pelo desenvolvimento tecnológico da sociedade capitalista.

-> Para ver outros textos desta Rodada Temática clique aqui.
Bibliografia:
BAUDRILLARD, J. A Transparencia do mal: Ensaio sobre os fênomenos extremos. Campinas, Papirus, 1990.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de janeiro: Edições Graal. 1979.
FUKUYAMA, F. Nosso mundo pós-humano. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
MARX, K. O Capital. São Paulo; Abril Cultural, 1982.
PIERUCCINI, S. O que Saussure diz sobre a linguagem. 2007.
SANTOS, J.F dos. O que é pós-mod


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ESCOLA DE FRANKFURT
http://educacao.uol.com.br/filosofia/escola-de-frankfurt.jhtm

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pIERRE BORDIEU ESTILO E GOSTO DE CLASSE
http://www.minosoft.com.br/mirela/download/pierreboudieu.pdf

PIERRE BORDIEU - VIOLÊNCIA SIMBÓLICA
http://www.olavodecarvalho.org/semana/090204dc.html

bBORDIEU E A EDUCAÇÃO CULT

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/uma-introducao-a-pierre-bourdieu/

FILME http://www.youtube.com/watch?v=nQ40S71FQxo&feature=related

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Guy Debord: sociedade do espetáculo

http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/57/artigo213501-2.asp

................................................VIDAS DESPERDIÇADAS DE ZIGMUND BAUMAN

Resenha - "Vidas Desperdiçadas" Zigmund Bauman

No bojo das transformações geradas pelo capitalismo, ou mais precisamente pela globalização, os seres humanos estão sendo deixados do “lado de fora”, ou melhor, excluídos do mundo social.

Em um espetacular livro que versa tanto sobre as conseqüências do processo de globalização, como também sobre o cenário sombrio em que se encontra a vida humana, Zygmunt Bauman reflete de modo bastante simples sobre o banimento da maioria dos indivíduos do progresso da modernidade.

Em Vidas desperdiçadas, Bauman classifica os seres humanos que não conseguiram permanecer no carro da modernidade e que não conseguem se inserir no processo de globalização de “refugo humano”. A globalização é excludente, traiçoeira, eliminadora. Ela causa morte, fome, desemprego e caos para milhões de seres humanos, afirma Bauman.

Produz dejetos, sujeiras e lixo humano que são jogados longe dos grandes centros urbanos e são colocados em grandes depósitos em terras inabitadas, sem qualquer tipo de organização, de política de reciclagem. Nosso planeta está cheio, afirma Bauman, está cheio porque a modernização se globalizou chegando a terras longínquas, penetrando nos costumes, na organização do modo de vida de povos que não se interessavam pela corrida ao progresso.

Como o processo de produção de refugo humano é inquebrantável, ou seja, não pára um só instante, as áreas do globo estão cada vez mais lotadas, saturadas. Onde colocar o lixo, então? Essa questão é a que é mais debatida neste novo ensaio de Zygmunt Bauman sobre o processo de globalização e suas conseqüências.

“O mundo está seguro?” – pergunta Bauman. Como podemos perceber um mundo seguro onde existem milhares de refugiados, de asilados e de guetos almejando somente uma chance para pular no carro do progresso. Não estamos seguros pelo motivo de estarmos pisando em terreno minado, onde a qualquer momento soa o alarme de combate às ações terroristas, aos refugiados e ao refugo humano.

Essa é a expressão da vida contemporânea, carregada de uma ideologia consumista que prega a individualização do individuo e, conseqüentemente, a negação do sentido humano de solidariedade. Neste caminho segue a produção de refugo humano e de lixo em maiores quantidades, haja vista que a sociedade de consumidores se sobrepôs à sociedade de produtores. Quem não consume torna-se refugo humano e o que é consumido transforma-se em lixo, dejeto ou sujeira.

Este excêntrico livro está dividido em quatro grandes capítulos capazes de esclarecer o leitor no que diz respeito aos males da pós-modernidade como também às maléficas conseqüências da globalização. Ademais, todos os capítulos ressaltam aspectos importantes para entendermos a vida humana, ou melhor, a vida contemporânea no torvelinho dos acontecimentos sociais.

No primeiro capítulo, Bauman terce uma análise dos projetos que os indivíduos pós-modernos batalharam para criar. Tudo aconteceu a partir da chamada geração X, com o surgimento de uma nova doença tão pouco existente nas gerações anteriores: a depressão. As causas desta estavam diretamente relacionadas às dificuldades enfrentadas pela geração X, como o aumento do desemprego.

A globalização mudou a trajetória de vida desta geração, acabou com sonhos e projetos, criou dicotomias, rompeu com tradições e acelerou suas vidas. A globalizante modernidade líquida deixou pra trás a sociedade de produtores por uma sociedade de consumidores onde o que impera é a produção de refugos e de lixo. Ela fez com que os projetos humanos causassem a desordem e o caos no “admirável mundo líquido”.

Este capítulo trata também da internet, essa potente ferramenta da modernidade. A tecnologia com seus ciberespaços transformaram a internet em mais um deposito de refugo de informação. O ciberespaço concentra milhões de informações descartáveis e inúteis. Por outro lado, os sites contabilizam números recorde de informações sobre refugo (lixo). Digitando no buscador google a palavra refugo (lixo) encontraremos 11.500.000 sites referente ao tema. Este fato reforça a idéia de que o lixo está se tornando um dos problemas mais angustiante de nossos dias.

O refugo humano (as pessoas) está excluído de tudo, a lei não o contempla, os governos não se responsabilizam por eles. Vivemos no caos e na ordem. Os humilhados e excluídos do sistema, correspondem à maioria dos seres humanos existente na terra.

Bauman salienta no segundo capítulo deste livro que o mundo está super populoso e que não existem mais terras para a enorme produção de refugo humano O debate em torno das questões demográficas ganha sentido quando, afirma Bauman, que existem países bastante povoados e países pouco povoados. A questão central deste capítulo gira em torno de um paradoxo: os órgãos governamentais afirmam que a população de 6,5 bilhões de habitantes existente na terra cresce rapidamente e que não haverá comida suficiente para todos. No entanto, a distribuição desta superpopulação é irregular, desordenada e caótica. O território europeu concentra uma grande quantidade de pessoas por kilometro quadrado. Já a população da África é insuficiente para o seu território. A questão são os recursos financeiros que cada país dispõe para sua população.

Superpopulação gera refugiados e asilados, um dos grandes problemas das nações ricas. O medo surge como marca de nações como os Estados Unidos, a Inglaterra e França. Atentados como o 11 de setembro mudaram os programas governamentais para refugiados e asilados. Agora estes são visto em muitos casos, como potenciais terroristas. A mídia incita os cidadãos e o próprio governo a xenofobia. Nasce, dessa maneira, uma genealogia do medo baseada no receio ao terror e ao estranho (imigrantes, refugiados e asilados).

Os estranhos (imigrantes, refugiados e asilados) têm como função receber toda a descarga de raiva e as ansiedades dos indivíduos, sobretudo por representarem um perigo para a segurança dos cidadãos. Daí, eles se tornam alvos fáceis de tema de campanhas xenofóbicas tanto pelos governos como pela população.

Os imigrantes e os asilados são considerados o refugo da globalização, lixo humano que vaga em busca de um lugar na sociedade do progresso. Mas, o outro lixo, aquele tradicional que é produzido por “nós” também não existe mais lugar onde depositá-lo, guardá-lo. Os consumidores estão produzindo toneladas de lixo, alias, sem contar com o novo tipo de lixo produzido pela modernidade líquida: o lixo industrial, eletrônico. Estes têm vida longa, demoram milhares de anos para se decompor, poluem e estão destruindo nosso planeta.

Globalizaram o medo, globalizaram o crime, os governos preferem prender imigrante a acabar com o crime organizado. No terceiro capítulo o autor terce um panorama sobre as políticas governamentais no que concerne a mudança do Estado social para o Estado excludente.

O mundo globalizado prega por uma política de exclusão, de retirada de refugo. Cada país cuida de seu “lixo”, de sua população redundante retirando-a do convívio com os outros indivíduos úteis. A população redundante é a parte inútil, imprestável, que deve ser retirada de circulação, jogada em campos de refugiados. Para que isso aconteça, os países ignoram as leis internacionais, perpetram limpeza étnica e genocídios.

O Estado de tolerância zero é acionado, os guetos são isolados, os bairros de imigrantes são vigiados dia e noite. Há uma produção de um Estado de emergência baseado no medo do “outro” (o estrangeiro). Tudo isso ocorre porque o mundo líquido destituiu o Estado de seus programas sociais, de seu dever para com sua população. O Estado social transformou-se em um Estado de guarnição, no qual o que impera é a proteção dos interesses das corporações globais e das transnacionais.

No último capítulo Bauman, explora as conseqüências da modernidade líquida, sua função e sua cultura: do lixo. A cultura do lixo predominante da era líquida representa os novos modos de viver no mundo. O consumir soa ressonante nos ouvidos dos indivíduos de maneira a tornarem escravos dos cartões de créditos, do luxo e da beleza/estética. Sem falar que o consumismo cria a difícil batalha para permanecer dentro do mercado de trabalho, paradoxalmente cria-se a cultura do não emprego permanente, do fim dos compromissos com o “emprego para sempre”.

Os relacionamentos tão pouco exigem compromisso, fidelidade. Namorar não requer mais todo um ritual de conquista, de galanteio e de sedução. Agora, namora-se à distância, temos diversos tipos de relacionamento, você escolhe: relacionamento de bolso, relacionamento à longa distância, relacionamento cool, encontro veloz e outros.

Mudamos nossos comportamentos, porque a sociedade está em constante transformação. Nossos ideais transformaram-se em sonhos, por vivermos num mundo de permanente incerteza, onde tudo que agora é novo daqui há alguns minutos torna-se velho, lixo.

Estamos na era da insegurança, na qual o medo predomina mais precisamente nos grandes centros urbanos. Na modernidade líquida os indivíduos não se olham tête-à-tête, preferem a tecnologia do telefone celular para se comunicar, pois é mais seguro não sair de casa. Preferem os reality show da televisão, como o Big Brother, é mais emocionante do que ir ao parque, ao cinema.

Em suma, tal pensamento expressado pelo autor neste livro reflete a preocupação surgida nos últimos anos em relação às conseqüências da globalização no mundo: o aumento da produção de lixo (refugo humano, lixo tradicional e industrial), o aumento da população mundial e o aumento das desigualdades continentais. Ele reflete ainda sobre a separação entre os ricos e os pobres, os europeus e os não-europeus, os países subdesenvolvidos (sul) e os desenvolvidos (norte). Ademais, faz com que pensemos nas relações sociais re-configuradas a partir da Era Líquida, onde o mundo todo está em constante transformação.http://gisele-finatti-baraglio.blogspot.com.br/
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Como amar em um mundo assustador?
Há anos o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, professor emérito da Universidade de Leeds e de Varsóvia, dedica-se a retratar as desastrosas consequências sociais de uma modernização que privilegia apenas uma minoria. Prestes a completar 80 anos, o autor dos best-sellers “O mal-estar da pós-modernidade” e “Amor líquido” está mais activo do que nunca: dois novos livros estão chegando aoBrasil, ambos pela Jorge Zahar Editor. Em “Vidas desperdiçadas”, Bauman faz um prognóstico assustador: o crescimento incontrolável do “lixo humano”, pessoas descartáveis ou “refugadas”, como prefere que não puderam ser aproveitadas e reconhecidas numa sociedade cada vez mais seletiva. O outro lançamento é “Identidade”, uma entrevista que concedeu ao jornalista italiano Benedetto Vecchi, em que reforça seus conceitos sobre a crise de identidade imposta pela modernização.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo, 5-11-05, Bauman analisa a fluidez dos relacionamentos amorosos, compara a vida em sociedade ao “Big Brother”, critica o combate militar ao terrorismo, comenta o “jeitinho brasileiro” e nega o rótulo de pessimista: “Acredito fortemente que um mundo alternativo seja possível”, diz ele.
  • No seu livro “Amor líquido” é um sucesso comercial no Brasil. Na sua opinião, por que as pessoas têm se interessado tanto pelo assunto? Por que a idéia de durabilidade das relações amorosas nos assusta tanto?
ZYGMUNT BAUMAN: As relações amorosas estão hoje entre os dilemas mais penosos com que precisamos nos confrontar e solucionar. Nestes tempos líquidos, precisamos da ajuda de um companheiro leal, “até que a morte nos separe”, mais do que em qualquer outra época. Mas qualquer coisa “até a morte” nos desanima e assusta: não se pode permitir que coisas ou pessoas sejam impedimentos ou nos obriguem a diminuir o ritmo de vida. Compromissos de tempo indeterminado ameaçam frustrar e atrapalhar as mudanças que um futuro desconhecido e imprevisível pode exigir. Mas, sem esse compromisso e a disposição para o auto-sacrifício em prol do parceiro, não se pode pensar no amor verdadeiro. De facto, é uma contradição sem solução. A esperança ainda que falsa é que a quantidade poderia compensar a qualidade: se cada relacionamento é frágil, então vamos ter tantos relacionamentos quanto forem possíveis.
  • O senhor está casado com a mesma mulher há 56 anos (a também socióloga Janina). Há segredo para uma união duradoura em tempos de “amor líquido”, em que os parceiros são descartados de acordo com a sua funcionalidade?
BAUMAN: Quanto mais fácil se torna terminar relacionamentos, menos motivação existe para se negociar ou buscar vencer as dificuldades que qualquer parceria sofre, ocasionalmente. Afinal, quando os parceiros se encontram, cada um traz a sua biografia, que precisa ser conciliada, e não se pode pensar em conciliação sem fazer concessões e auto-sacrifício. Eu e Janina, provavelmente, consideramos isso mais aceitável do que a perspectiva de ficarmos separados um do outro. No fim das contas é uma questão de escolha, do valor que se dá a estar junto com o parceiro e da força do amor, que torna o auto-sacrifício em prol do amado algo natural, doce e prazeroso, em vez de amargo e desanimador.
  • A sociedade fragmentada que o senhor apresenta em “Vidas desperdiçadas” não estimula a individualização e o sentimento de medo ao estranho que foram apresentados em “Amor líquido”?
BAUMAN: Claro. Nos comportamos exactamente como o tipo de sociedade apresentada nos “reality shows”, como por exemplo, o “Big Brother”. A questão da “realidade”, como insinuam os programas desse tipo, é que não é preciso fazer algo para “merecer” a exclusão. O que o “reality show” apresenta é o destino e a exclusão é o destino inevitável. A questão não é “se”, mas “quem” e “quando”. As pessoas não são excluídas porque são más, mas porque outros demonstram ser mais espertos na arte de passar por cima dos outros. Todos são avisados de que não têm capacidade de permanecer porque existe uma cota de exclusão que precisa ser preenchida. É exactamente essa familiaridade que desperta o interesse em massa por esse tipo de programa. Muitos de nós adoptamos e tentamos seguir a mensagem contida no lema do programa “Survivor”: “não confie em ninguém!” Um slogan como esse não prediz muito bem o futuro das amizades e parcerias humanas.
  • Em “Vidas desperdiçadas” o senhor menciona a questão criada por “imigrantes” em busca de um Estado que os proteja e lhes dê sobrevivência. De que modo os recentes atentados terroristas nos EUA e Europa são uma conseqüência dessa “marginalização” de seres humanos?
BAUMAN: A globalização negativa cumpriu sua tarefa. As fronteiras que já foram abertas para a livre circulação de capital, mercadorias e informações não podem ser fechadas para os humanos. Podemos prever que quando e se os atentados terroristas desaparecerem, isso irá acontecer apesar da violência brutal das tropas. O terrorismo só vai diminuir e desaparecer se as raízes sociopolíticas forem eliminadas. E isso vai exigir muito mais tempo e esforço do que uma série de operações militares punitivas. A guerra real e capaz de se vencer contra o terrorismo não é conduzida quando as cidades e vilarejos arruinados do Iraque ou do Afeganistão são devastados, mas quando as dívidas dos países pobres são canceladas, os mercados ricos são abertos à produção dos países pobres e quando as 115 milhões de crianças actualmente sem acesso a nenhuma escola são incluídas em programas de educação.
  • O que o senhor acha da afirmação de alguns acadêmicos que a globalização acabou e que o momento que vivemos agora é de vácuo pós-globalização?
BAUMAN: Não sei o que esses “acadêmicos” têm em mente. Até agora, a nossa globalização é totalmente negativa. Todas as sociedades já estão abertas. Não há mais abrigos seguros para se esconder. A “globalização negativa” cumpriu seu papel, mas sua contrapartida “positiva” nem começou a actuar. Esta é a tarefa mais importante em que o nosso século terá que se empenhar. Espero que um dia seja cumprida. É questão de vida ou morte da Humanidade!
  • O que será preciso acontecer para que nossa sociedade se dê conta da armadilha que caiu em busca da suposta “modernidade”?
BAUMAN: A civilização moderna não tem tempo nem vontade de reflectir sobre a escuridão no fim do túnel. Ela está ocupada resolvendo sucessivos problemas, e principalmente os trazidos pela última ou penúltima tentativa de resolvê-los. O modo com que lidamos com desastres segue a regra de trancar a porta do estábulo quando o cavalo já fugiu e provavelmente já correu para bem longe para ser pego. E o espírito inquieto da modernização garante que haja um número crescente de portas de estábulos que precisam ser trancadas. Ocasiões chocantes como o 11 de Setembro, o tsunami na Ásia, (o furacão) Katrina, deveriam ter servido para nos acordar e fazer agir com sobriedade. Chamar o que aconteceu em Nova Orleans e redondezas de “colapso da lei e ordem” é simplista. Lei e ordem desapareceram como se nunca tivessem existido.
  • O senhor aponta uma “crise aguda da indústria de remoção de refugo humano”. É possível criar mecanismos de inclusão dos seres humanos “excessivos” e “redundantes”? A modernização implica, necessariamente, uma “lixeira humana”?
BAUMAN: Esse excesso de população precisa ser ajudado a retornar ao convívio social assim que possível. Eles são o “exército reserva da mão-de-obra” e lhes deve ser permitido que voltem à vida activa na primeira oportunidade. Os “redundantes” são obrigados a conviver com o resto da sociedade, o que é legitimado pela capacidade de trabalho e consumo. Em vez de permanecer, como era visto anteriormente, como um problema de uma parte separada da população, a designação de “lixo” torna-se a perspectiva potencial de todos. Há partes do mundo que se confrontaram com o antes desconhecido fenômeno de “população sobrando”. Os países subdesenvolvidos não se disporiam, como no passado, a receber as sobras de outros povos e nem podem ser forçados a aceitar isso.
  • Países como Brasil, Índia e China são constantemente apontados como estratégicos para o século XXI. Ao mesmo tempo, são três países com grande número de “lixo humano”, com alto índice de desemprego. Isso não é uma contradição?
BAUMAN: Certamente. Isso fica ainda pior quando os gigantes do século XXI, China, Índia, Brasil, entram no “processo de modernização”. O número de “pessoas desnecessárias” crescerá. E aí há o grande problema que mais cedo ou mais tarde teremos que enfrentar: capacitar ou não China, Índia e Brasil a imitar o modelo de “bem-estar” adotado nos Estados Unidos em uma época em que “modernização” ainda era um privilégio de poucos? Para dar vazão, seriam necessários três planetas, mas nós só temos um para dividir.
  • Um dos mais importantes compositores brasileiros, Chico Buarque de Holanda, afirmou que “uma nação grande e forte é perigosa, mas que uma nação grande, forte e ignorante é ainda mais perigosa”. Ter uma nação grande, forte e ignorante no comando do mundo como parecem ser os Estados Unidos da Era Bush não pode acirrar ainda mais o “refugo” dos seres humanos?
BAUMAN: Lamento não conhecer Chico Buarque: ele toca no cerne da questão. Até onde vai a situação de nosso planeta com um único superpoder, confundido e subjugado pela ilusão de sua repentina ilimitada liberdade? A elevação súbita dos Estados Unidos à posição de superpotência absoluta e uma incontestada hegemonia mundial pegou líderes políticos americanos e formadores de opinião desprevenidos. É muito cedo para declarar a natureza deste novo império e generalizar seu impacto no planeta. Seu comportamento é, possivelmente, o fator mais importante da incerteza definida como “Nova Desordem Mundial”. Um império estabelecido pela guerra tem que se manter por guerras. Acabamos de ver isso no Iraque, apesar de todos saberem que era óbvio que bombardear e invadir o país não aniquilaria o terrorismo.
  • No Brasil, temos uma expressão muito popular, “jeitinho brasileiro”, que representa a capacidade do povo de superar adversidades, sejam elas pequenos problemas do cotidiano ou não. O senhor acredita que há nações com seres “redundantes” que saibam sobreviver melhor do que outros?
BAUMAN: O que vocês chamam de “jeitinho brasileiro” é a maneira que a modernização nos obrigou a reagir. Um dos resultados cruciais da modernização é a dependência dos processos da vida humana pelos “jeitinhos”. Isso implica o outro lado da mesma moeda: a vulnerabilidade crescente dos legítimos modos instruídos de viver.
  • Aos 80 anos, sua produção intelectual ainda é grande. O que o motiva a continuar escrevendo?
BAUMAN: Pierre Bourdieu ressaltou que o número de personalidades do cenário político que podem compreender e articular expectativas e demandas está encolhendo. Precisamos aumentá-lo, e isso só pode ser feito apresentando problemas e necessidades. O próximo século pode ser o da catástrofe final ou um período no qual um novo acordo entre os intelectuais e as pessoas que representam a Humanidade seja negociado e trazido à tona. Vamos esperar que a escolha entre estes dois futuros ainda seja nossa.
  • Todas suas obras apresentam um cenário bastante pessimista do mundo. Temos razão para acreditar em dias melhores?
BAUMAN: Rejeito enfaticamente essa afirmação. Optimistas são pessoas que insistem que o mundo que temos é o melhor possível; os pessimistas são os que suspeitam que os optimistas podem ter razão. Portanto eu não sou nem optimista nem pessimista, porque acredito fortemente que outro mundo, alternativo e quem sabe melhor, seja possível. Acredito que os seres humanos sejam capazes de tornar real essa possibilidade.


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